Investigadores do MediaLab do ISCTE detetaram, pela primeira vez, “indícios de interferência externa nas eleições em Portugal”, com anúncios ‘on-line’, um acusando o PS de corrupção e outro lembrando os cortes do PSD durante a ‘troika’. Estes indícios foram recolhidos pela equipa do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL) n uma pesquisa sobre as eleições nas redes sociais e os processos de desinformação na fase pré-eleitoral para as legislativas de 10 de março, em parceria com a agência Lusa. Até hoje, nunca se tinha detetado qualquer indício claro de interferência externa direta em eleições portuguesas, segundo a equipa de investigadores do MediaLab, coordenada por Gustavo Cardoso e José Moreno. Esta equipa acompanha a comunicação sobre eleições nas redes e nos media sociais em Portugal desde 2019. A investigação centrou-se em dois casos – um do PS e outro do PSD.
Algumas conclusões:
Publicidade 'on-line' proibida contra PSD atinge mais de dois milhões
Investigadores do MediaLab do ISCTE identificaram publicidade anónima e paga no Facebook, que liga o líder do PSD aos cortes durante a ‘troika’ e que alcançou, em poucos dias, mais de dois milhões de pessoas.
Gustavo Cardoso: Foram “as eleições mais polarizadas” da democracia
As legislativas de domingo são as eleições “mais polarizadas da história do Portugal democrático”, um ambiente que facilitou a desinformação, afirmou à Lusa o investigador Gustavo Cardoso, do MediaLab do ISCTE. O investigador retira desta análise as eleições presidenciais – que também costumam ser polarizadas – e sublinha que nesta campanha “todos embarcaram no mesmo discurso” de duelo entre a esquerda e a direita.
Publicidade no Facebook custou mais do que gastos dos partidos num ano no online
A publicidade ‘on-line’ proibida, contra o PSD, detetada pela MediaLab do ISCTE no Facebook, pode ter custado 12 mil euros em três dias, mais do que gastaram, em média, os oito partidos parlamentares num ano em anúncios no meio digital. em anúncios no meio digital. Quem pagou os anúncios - e não se conseguiu saber quem foi - “gastou em três dias mais do que todas as contas dos partidos juntas num ano” nas suas páginas oficiais, afirmou José Moreno, um dos investigadores. As contas dos gastos anuais dos oito partidos com as suas páginas oficiais constam na plataforma de anúncios da Meta e foi obtida pelos investigadores do MediaLab do ISCTE numa pesquisa feita para o projeto conjunto com a agência Lusa para monitorizar e fazer a despistagem de desinformação política na pré-campanha e campanha eleitoral para as eleições. Esses gastos atingiram em cinco anos 44.975€, o que se traduz numa média anual de 8.995€.